Luca Colapietro: “Eu faço o que me acontece na vida”

Carol Thomé Por Carol Thomé
6 Min lectura
Carol Thomé entrevista a mente criativa de Surrealejos

Os tradicionais azulejos portugueses ganharam um toque surreal pelas mãos do italiano Luca Colapietro, mais conhecido como Surrealejos. Na visita que fiz em seu ateliê, localizado nas proximidades de Alfama, um bairro típico lisboeta que atrai turistas do mundo todo, o artista me contou sobre o início do projeto, inspirações e como faz a mágica acontecer no seu processo de criação.

 

 

P. Bom, vamos começar do começo. O que é Surrealejos?

R. Surrealejos é uma mistura de duas palavras, azulejo e surreal. É a minha interpretação surreal dos azulejos. Eu sou da Itália, eu moro aqui há quatro anos, e quando eu cheguei aqui fiquei apaixonado pelos azulejos, porque aqui em Lisboa há azulejos por todos os lados, predios, casas, everywhere. Na Itália temos uma tradição de azulejos que chama-se Maiólica, mas não se difundiu como aqui. Eu fiquei apaixonado e pensei em arrumar a minha interpretação. Esse é o resultado.

P. Foram os azulejos portugueses que te trouxeram para Lisboa?

R. Não. Vim porque a minha namorada mora aqui. Ela é italiana…

P. Então já tinha uma paixão aqui em Portugal além dos azulejos.

R. Sim, sim. Eu na Itália trabalhei sempre como diretor de arte em agência de publicidade. Na verdade aqui também, quando cheguei, nos primeiros cinco ou seis meses fui numa agência trabalhar, mas depois deixei o trabalho na agência e continuei fazendo o meu trabalho.

P. Como é o processo de criação?

R. Como eu disse, eu sou um diretor de arte, também um designer. Eu faço o design, é um collage, que é um pouco feito à mão e com laptop (computador), e depois os azulejos são impressos no forno. A minha imagem, o meu design, é impresso num papel especial com tinta especial depois o azulejo e o papel vão ao forno. Esse tipo de azulejos são só para interiores porque são cozidos a 300 ºC, mais ou menos. Para o exterior, cozinha ou casa-de-banho eu mando fazer em Caldas da Raínha, que é uma pequena cidade perto de Lisboa, muito famosa pelo trabalho de cerâmica, porque eles conseguem fazer a mesma coisa, mais 1000 graus, então é mais resistente.

P. Pra esse tipo de ambientes.

R. Sim.

 

Surrealejos

 

P. E você tem azulejos que podem ser usados individualmente e tem outras composições também.

R. Sim. Eu vendo azulejos individuais, painel de azulejos ou quadros com moldura. Agora estou experimentando fazer outras peças como esta aqui como esta escultura. Tenho também um, imagina, uma coisa assim, esse flamingo com o gramofone mais em 3D. Não tenho aqui, tenho em casa mas posso mostrar-te se quiser [mostra o vídeo]. Agora queria fazer o meu design em 3D.

P. Sensacional.

R. Essa é a ideia, estou a tentar.

P. Está indo bem. Quem é o teu público alvo? Quem vem mais aqui?

R. Turistas. Eu vendo mais aos turistas, aos portugueses também mas, imagina, o português não compra um azulejo; fiz alguns trabalhos para casa-de-banho, cozinha… o português compra azulejos para fazer paredes. Muitos franceses, pessoas da Alemanha, da Inglaterra também. Eu vendo muito no Canadá, porque eu faço envios. Saiu um artigo no The New York Times, o artigo fala de um weekend em Lisboa, e neste artigo está também Surrealejos. Então por esse artigo muitas pessoas passaram por aqui, pessoas dos Estados Unidos. Eu vendo aqui, depois vendo meu produto a outras lojas em Lisboa, e por exemplo a uma loja em Paris, uma loja em Londres…

P. E online também?

R. Sim, eu tenho um e-commerce. Mas esta é só a loja física, que vende só os azulejos individuais. Há uma outra loja em Toronto, no Canadá.

P. Ótimo. Eu estou vendo aqui que tem uma que tem uma expressão bem portuguesa, são as sardinhas.

R. Sim. Sardinhas e o elétrico.

P. Você juntou duas referências.

R. Sim. Cada azulejo tem um nome. Este chama-se Tram 28.

 

Surrealejos, Tram 28

 

P. Por conta do elétrico.

R. Sim, sim.

P. Qual é o azulejo mais português que você tem aqui?

R. Eu acho que é esse com as sardinhas. E depois um que chama-se Sumo de Sardinhas, porque aqui é sardinhas e a laranja.

 

Surrealejos, Sumo de Sardinha

 

P. E o mais italiano?

R. Não há (risos). Eu estou aqui em Lisboa, então esta, por exemplo, é uma parte da Torre de Belém. Não vou fazer estilo italiano, mas porque eu faço o que me acontece na vida. Eu fiz esse flamingo porque fui ao México alguns meses e fiquei num lugar que estava cheio de flamingos e por isso eu pensei em fazer um flamingo diferente.

 

 

 

Surrealejos

 

Surrealejos

 

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Periodista, videorreportera y especialista en comer y correr riesgos en la cocina. Actualmente se dedica a mezclar los sabores de Brasil y Portugal, y a producir contenidos sobre gastronomía enfocados en aproximar estas dos culturas.